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Corporate venture capital se consolida como porta de entrada para economia digital.

A empresa tradicional precisa estar decidida a aprender como operar baseada em modelos descentralizados, colaborativos e ágeis antes de incorporar um parceiro estratégico com uma cultura totalmente diferente.

O mundo vive um momento de grande fluxo de capital investido em inovação. O investimento de venture capital global em 2021 teve um crescimento de 111% em relação ao ano anterior, que já foi um ano de crescimento mesmo com o ápice da pandemia. O número de empresas consideradas unicórnios saltou 69% em todo o mundo. Chegamos a quase 1000 startups atingindo um valor de mercado de mais de 1 bilhão de dólares. 

A maior parte dessa verdadeira avalanche capital vem de fundos de investimento que reúnem, na sua maioria, grandes instituições financeiras. Uma pequena parte desse montante é composto por empresas e grandes corporações que investem, na maior parte das vezes, em busca de uma renovação ou ampliação do seu negócio atual. 

No Brasil, o crescimento foi ainda maior: o triplo em relação a 2020.

Quase todos os dias somos impactados por notícias de empresas comprando outras empresas em valores milionários. O que vemos é só uma parte dos mais de 2 mil negócios fechados pelo mundo só no primeiro semestre do ano passado. 

A busca por um lugar ao sol na nova economia digital está acelerando os investimentos das empresas que perceberam que velocidade é valor e que não dá mais tempo de apostar somente na inovação de dentro para fora. A competitividade é o que faz as empresas pisarem fundo no acelerador para comprar startups. O concorrente ao lado também está no mesmo movimento e quem chegar por último pode ficar somente com as sobras. 

A transformação digital pode ser comprada?

Sim, pode. Mas obviamente não é tão simples como escolher uma bicicleta na loja. A criação de valor das empresas de tecnologia que mais crescem hoje não vem de dentro. Além disso, nem sempre terminam na aquisição de outras empresas. O modelo de trabalho em colaboração com outras empresas é uma premissa da economia digital. Produto e operação são cada vez mais complexos e a criação de valor depende de uma relação fluída e de confiança entre pares. Geoff Parker, professor do MIT, chama esse novo momento de Empresa Invertida.

Para aprender a pedalar não é preciso comprar uma bicicleta. Você pode alugar ou pedir emprestada. Depois que você aprende a pedalar e decide que ter uma bicicleta vai fazer diferença na sua vida, você vai até a loja. Esse processo não é muito diferente na economia digital. Primeiro a empresa precisa estar decidida a aprender como operar baseada em modelos descentralizados, colaborativos e ágeis antes de incorporar um parceiro estratégico com uma cultura totalmente diferente de trabalho. São inúmeros os casos de fracassos de negócios tradicionais que compraram startups e não conseguiram integrar equipes, produtos e oferta de valor ao mercado. O puxadinho sempre vai ter cara de improviso e o consumidor percebe isso de longe. 

Aprender rápido para executar mais rápido ainda.

A velocidade da transformação nas grandes corporações é proporcional ao aprendizado dos seus profissionais para trabalhar em um modelo mais adaptado ao modelo de inovação. Quanto mais a big corp estiver preparada para inovação, mais fácil será incorporar novas iniciativas externas, oriundas de investimentos em startups. 

Ninguém quer perder o trem da história, deixando passar boas oportunidades de aquisição de empresas com ideias e produtos que podem transformar segmentos inteiros de mercado. Porém investir sem condições de absorver profissionais com métodos e práticas tão diferentes certamente irá prejudicar a qualidade na execução e na continuidade dessa fusão cultural.

Just BUY it.

No evento SXSW de 2021, um dos painéis que mais me chamou a atenção foi justamente sobre o futuro do corporate venture. O painel teve presença de gestores de áreas de venture capital de empresas como Toyota, BMW e SK Telecom (maior telecom da Coréia do Sul) onde a discussão foi bastante pautada sobre a capacidade das empresas em absorverem a inovação através de processos de M&A. A frase “No time to build. Just buy it” virou um mantra entre as empresas com estes setores, que olham o mercado como um grande colab, onde o importante é ter a capacidade de detectar startups com potencial de transformação do negócio em estágios cada vez mais iniciais de crescimento. 

Aqui no Brasil, crescem iniciativas de grandes empresas que estruturaram áreas para conexão com startups, inspiradas nos modelos das multinacionais. Profissionais oriundos de aceleradoras e instituições governamentais ligadas à inovação estão encontrando lugar em empresas que querem se preparar para acelerar de fora para dentro. Outro exemplo de como essa conexão é a nova regra do jogo são os grupos de empresas que estão se unindo para desenvolver o ecossistema local, como o Instituto Caldeira em Porto Alegre. Seja qual for o modelo de conexão com startups, a verdade é que o momento do corporate venture está se consolidando no Brasil.