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Qual é o momento certo para lançar um produto ou pivotar o negócio?

Timing é tudo na vida. Seja na vida pessoal ou profissional, o êxito está em antecipar tendências e fazer algo no momento certo.

Lançar ou pivotar no momento certo é um dos principais fatores, senão o principal, de sucesso de um produto. Segundo Bill Gross, “timing” é o grande fator de sucesso de uma startup. Em seu famoso Ted Talk, ele traz evidências que comprovam muitos casos em que o momento influenciou decisivamente para o sucesso ou fracasso de uma empresa.

O relatório da CB Insights também relaciona o momento como fator de fracasso das startups. Mas em número menor. Cerca de 10% das empresas pesquisadas alegaram “product mistiming” como causa do fracasso. Segundo, Stefan Seltz-Axmacher, CEO da Starsky Robotics, “Se você lançar seu produto muito cedo, os usuários podem classificá-lo como insuficiente e pode ser difícil recuperá-lo se a primeira impressão que tiver de você for negativa. E se você lançar seu produto muito tarde, pode ter perdido sua janela de oportunidade no mercado.”

Talvez esse número seja ainda maior, concordando com Bill Gross, pois o momento certo é algo difícil de reconhecer uma vez que depende de uma distância temporal para melhor observação. Muitas vezes só vamos nos dar conta de que o momento não era o correto muitos anos depois, quando conseguimos nos distanciar da situação e perceber qual era o verdadeiro timing ideal. Para entender melhor a influência do momento e do tempo nas nossas vidas, recomendo a leitura do livro Quando, Os segredos científicos do timing perfeito do Daniel H. Pink. 

Dados e feeling trabalhando juntos. 

Compreender qual é o momento ideal para lançar um produto ou empreender algo está muito relacionado com a nossa capacidade de fazer previsões. O timing é uma soma de fatores externos e internos que precisamos analisar e correlacionar para concluir se é ou não o momento certo.

Esse assunto é tão carregado de subjetividades, de detalhes difíceis de mapear e organizar, que muitas pessoas acreditam que timing é pura sorte. Assim, muitos empreendedores creditam o próprio sucesso ao feeling para os negócios e o fracasso à falta de sorte. No fundo, o feeling nada mais é do que a nossa capacidade de processar informações e correlacionar resultados futuros de forma menos organizada e mais inconsciente. Logo, quanto mais informações e conhecimento você acumular melhor será o seu feeling. 

O problema de confiar no feeling é que, muitas vezes, precisamos mobilizar outras pessoas para empreenderem ou lançarem produtos. Para estas pessoas, pode parecer muito amador justificar decisões somente pelo nosso feeling. Corremos o risco de perder o crédito no primeiro erro. Precisamos assumir que a nossa capacidade de fazer previsões, em geral, não é boa. Já falei sobre isso no meu último artigo e acredito que isso só tem uma solução prática: assumir que não é simples, reunir todos os dados e as melhores cabeças para tomada de decisão. 

Alguns momentos são mais óbvios de prever como lançar produtos de acordo com a sazonalidade das estações: novo rótulo de cerveja no verão, produtos escolares no início do ano letivo, etc. Mas outros nem tanto, já que dependem de fatores mais complexos e menos previsíveis.

Como sobreviver a um futuro de demandas imprevisíveis?

Existem duas dimensões principais para o planejamento do momento certo para os negócios: o momento do mercado e o momento da empresa.

O momento interno da empresa trata da capacidade de execução de um plano de negócio: produto, estratégia de go-to-market e operação. Muitas vezes as empresas carecem de recursos financeiros e de profissionais capacitados para executar um plano no momento ideal. Saber até quando os recursos vão durar é um fator fundamental, principalmente, em negócios baseados em bens físicos, como estoque, por exemplo. Já na economia digital os recursos são as pessoas que desenvolvem e entregam o produto. Ter a capacidade de previsão dos recursos necessários também é timing. Quando erramos para mais, os custos podem inviabilizar a operação do ponto de vista financeiro. Se erramos para menos, a falta de recursos cria gargalos que impedem o crescimento, deixando espaço para concorrentes mais organizados. Esse planejamento é o timing mais simples, pois só depende de nós. Controlamos esse tempo.

O momento do mercado é, sem dúvida, o fator mais complexo para planejar o timing de lançar um produto. São todos os fatores externos que podem influenciar o mercado consumidor. Um exemplo clássico é o da bolha da internet em 2001. Investidores jogaram bilhões de dólares em um mercado que ainda não tinha adoção tecnológica o suficiente para dar o retorno no tempo esperado. Estávamos na era da internet lascada (discada) investindo em negócios que levariam quase duas décadas para ter um grande volume de consumidores digitais. 

Crises sempre geram momentos de oportunidade para inovação. A crise do subprime americano foi uma grande alavanca para negócios cuja proposta de valor era proporcionar renda extra para pessoas desempregadas como a Uber. 

A pandemia foi um fator externo que mudou o timing de lançamento e investimento de produtos. Para o bem e para o mal. Empresas de delivery simplesmente explodiram de pedidos do dia para a noite naquela semana de 15 de março de 2020. As universidades foram surpreendidas pela necessidade de adotar o ensino à distância. Ao mesmo tempo, escolas nativas do EAD nunca imaginaram ventos tão favoráveis. Além da pandemia, a urgência da crise climática também está criando um momento favorável para alguns negócios e desfavorável para outros. Não são oportunidades de momento, que passam logo em seguida. São momentos específicos que mudam a história dos negócios. 

Diante de tanta imprevisibilidade, parece cada vez mais difícil planejar os próximos movimentos. Em um mundo cada vez mais BANI (Frágil, Ansioso, Não linear e Incompreensível), as mudanças de rumo são o novo normal e precisamos nos acostumar com isso. 

Timing não pode ser uma folha que tentamos agarrar no vento. 

Existe um antigo ditado do hockey que sempre orientou a antecipação ao momento nos negócios: “Não corra para onde está a bola (puck), mas para onde a bola vai estar”. Ou seja, é preciso ter os recursos certos no tempo certo. Só que, agora, alguém pode jogar uma, duas, três bolas em quadra e está tudo valendo! Ou simplesmente retirar todas as bolas e você vai ter que inventar outro esporte com os mesmos recursos. E está tudo valendo! 

Estar preparado para novas regras do jogo sem prévio aviso é o novo ambiente que vivemos. Planeje do início ao fim e teste rápido. Mude os planos com base em dados e não em suposições rasas. Errar rápido é uma regra básica dos novos tempos, porém no menor tempo e com o menor uso de recursos possíveis. Um livro bastante famoso sobre essa habilidade é o Anti-frágil do Nassim Nicholas Taleb. 

Os momentos do mercado quase sempre são tendências que se formam diante dos nossos olhos e muitas vezes ignoramos em busca de algo mais original. Só que a maioria dos grandes empreendimentos nascem de oportunidades bastante óbvias. 

A pauta ESG, cada vez mais importante para os consumidores, está criando um timing favorável para novos produtos e novas propostas de valor. As novas demandas por alternativas energéticas, produção sustentável e alimentos de menor impacto ambiental são oportunidades imediatas.

A ampliação da conexão 5G traz consigo um momento futuro de novas oportunidades para o streaming, realidade aumentada, automação e muito mais. O potencial de transmissão de conteúdo ao vivo através do celular em qualquer lugar é algo que abre espaço para novos produtos e serviços associados ao entretenimento e jornalismo. A medicina e o ensino à distância ganharam mercado com a pandemia e, certamente, o 5G vai impulsionar ainda mais estes negócios. 

A adoção de criptoativos de diversas formas abre novas portas para criar valor literalmente do nada. Este é um mundo realmente muito novo que demanda pesquisa e conhecimento sobre blockchain. O leque de possibilidades de como gerar valor é incrivelmente extenso. 

No ambiente financeiro, o pix já é uma plataforma para diversas startups. Mas o Open Banking é algo ainda mais disruptivo para o mercado que certamente verá uma explosão de novas fintechs. 

A combinação de todos estes fatores tem infinitas possibilidades. Sem um planejamento adequado é bem fácil se perder em tantas boas oportunidades. 

Faça e fale no tempo certo. Ideias são commodities baratas que circulam nas mentes dos empreendedores, geralmente, ao mesmo tempo. Cada vez mais a informação acessível permite que muitos tenham exatamente as mesmas ideias. Portanto, o que conta no timing é a execução. Teste, experimente, valide e depois chame a assessoria de imprensa. Lançar um produto no tempo certo é executar um plano bem organizado. O Como e o Quando precisam andar de mãos dadas para as coisas darem certo. Não adianta correr atrás do momento ideal como quem tenta agarrar folhas no vento. No fim, você não executa, não testa e não valida nada. Não executar o planejado significa perder o momento.