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Super Founders: Do que é feito um unicórnio?

Qual a diferença entre as empresas que chegam ao ponto de se tornarem unicórnios e das que ainda seguem na luta? Investimento? Universidade ou idade dos fundadores e fundadoras? Modelo de defesa contra novos entrantes? Local de início da empresa? Segmento de atuação? 

O livro Super Founders busca trazer um pouco de luz a essas perguntas com uma extensa análise de dados comparativos entre startups avaliadas em mais de 1 bilhão de dólares (os unicórnios) e um grupo randômico de startups que receberam aporte de investimento em estágio seed ou superior. 

Vivemos um mundo dos negócios carregado de mitos. Steve Jobs e Mark Zucherberg são dois empreendedores que abandonaram a universidade e criaram o mito do startupeiro que não precisa fazer faculdade. 

Os reconhecimentos e o espaço jornalístico exaltando jovens empreededores, como a Forbes Under 30, criaram o mito de que o startupeiro é jovem, ousado e cheio de visões disruptivas do futuro. 

Os aportes milionários em ideias nem sempre tão efetivas ou em modelos de negócio que sequer param de pé criaram o mito de que toda startup precisa de uma montanha de dinheiro para se tornar um unicórnio. 

Os milhares de programas de aceleração também não são garantia de sucesso. 85% das empresas que atingiram 1 bilhão de dólares em valor de mercado não participaram de nenhum programa de aceleração formal. 

O grande mérito do livro é colocar os dados em comparações claras para desmistificar muitas verdades absolutas que o senso comum nos coloca no dia a dia em artigos e matérias sobre inovação e venture capital. Mas também confirma alguns fatos, como, por exemplo, o de que os fundadores costumam ter mais sucesso depois de passar por uma ou mais experiências em levantar capital e escalar negócios. 

Quase 60% dos fundadores de unicórnios não são marinheiros de primeira viagem nesse mundo startupeiro. A diferença é pequena para o grupo de controle randômico, mas é reforçado pelo fato de que investidores dão preferência para os mais experimentados por saberem que a taxa de êxito é maior. Algo bastante óbvio: a experiência conta em quase todas as situações da vida. 

Por outro lado, só experiência não é garantia de sucesso. Apesar do mito do “school dropout”, como Mark Zucherberg, Bill Gates e Steve Jobs, a maior parte dos fundadores de unicórnios terminaram a faculdade e muitos fizeram mestrado, doutorado, etc. Menos de 10% interromperam os estudos para empreender. Até os PhDs são em maior número do que os desistentes.

Outro mito interessante que o livro desfaz é o do empreendedor nato que sempre foi um self-made man ou self-made woman, que nunca teve carteira assinada. Empreender estava em seu sangue e se tornar um unicórnio era o seu destino. Pois bem. 60% dos CEOs dos atuais unicórnios da indústria da tecnologia foram funcionários em gigantes como Google, Facebook, Microsoft e outras empresas que o livro enquadra como “Tier 1”. Os outros 40% em empresas de menor porte, mas ainda assim colaboradores que resolveram empreender e deixar o conforto do contrato de trabalho de lado. 

Vou parar de dar spoilers do livro por aqui. 

Recomendo o Super Founders para quem quer ver mitos sendo desfeitos e também para quem busca uma visão ampla dos fatores que mais contribuem para o sucesso de um empreendimento na área de tecnologia. 

Todo empreendimento é um risco pessoal de quem faz seus cálculos para se jogar numa aventura além da carteira assinada. Ter estes dados em mãos não significa que, ao não se enquadrar no padrão que “deu certo”, vai fazer com que você não tenha o mesmo sucesso.

Nadar contra a maré também faz parte da história de grandes empreendedores. Porém dados são sempre relevantes para nos ajudar a prever a probabilidade de certos eventos acontecerem ou nos ajudam a tomar certas decisões. Portanto, tenho este livro como um guia, mas não, necessariamente, como um mapa da mina.