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Até onde vai a multiplicação das fintechs?

Você já parou para pensar por onde anda o seu dinheiro nos aplicativos do seu celular? 

Nos últimos anos, surgiram diversos apps ou iniciativas de grandes empresas que servem como meio de pagamento. Muitos garantem rendimento de 100% a 220% do CDI dos valores ali depositados.

Eu fiz a conta de todos os lugares onde tenho pelo menos alguns centavos esquecidos ou guardados. Descobri que tenho no meu celular aplicativos de 2 bancos tradicionais, 3 bancos digitais, 2 apps somente para pagamento, 1 app de investimento, 2 carteiras de criptomoedas, 2 apps de estacionamento, 1 app de transporte, 1 app de vinhos e 2 e-commerces com carteira digital. No total, tenho pelo menos R$ 0,48 em pelo menos 1 desses 16 aplicativos. Isso sem contar o saldo zerado em 2 outros apps que prometem rentabilidade se deixar algum dinheiro parado lá. Sim, é um caos. O valor espalhado nestas carteiras digitais pode não ser grande coisa, quando contabilizado individualmente, mas se somar até que dá para pagar uma pizza tamanho família.

A sensação que a gente tem ao abrir um aplicativo e encontrar 2 reais perdidos é semelhante aquela de colocar a mão no bolso da calça e encontrar um dinheiro esquecido lá. 

Cashback é o novo desconto. 

Passado um tempo desde a criação dos Arranjos de Pagamento pelo Banco Central em 2013, que permitiu às instituições de pagamento guardarem o nosso dinheiro, surgiu o termo cashback. O “dinheiro de volta” tomou conta do mercado e as carteiras digitais se multiplicaram de forma vertiginosa. Basta ver o aumento das buscas pelo termo “cashback” nos últimos 2 anos. 

Buscas pelo termo “cashback” no Google

Com isso, vem a pergunta: toda empresa vai virar fintech?

Essa foi a pergunta feita para grandes fintechs no Fórum da Liberdade, que recomendo muito assistir. 

A digitalização da economia nos trouxe possibilidades de ampliar o crédito ao consumidor num nível que vai além dos bancos e financeiras. Por exemplo: ao conectar o cartão de crédito em aplicativos de compras ou pagamentos, você pode guardar (e fazer render) um dinheiro emprestado do cartão para pagar contas e boletos. 

Outro exemplo de como as carteiras digitais contribuem para aceleração dos negócios é o uso do cashback para reativação de um cliente inativo. Em um negócio tradicional, esse processo envolve comunicação e marketing para que o usuário volte a consumir. Já no ambiente conectado a uma carteira digital, basta avisar o usuário que foi depositado R$ 10,00 para que ele usar na próxima compra. O custo da reativação é, basicamente, dar dinheiro ao invés de investir em marketing. Ou prometer um cashback (que no fundo é um nome novo para “desconto”) na próxima compra. Ou seja, é um dinheiro que não existe no sistema financeiro, mas que está disponível para o usuário somar ao seu dinheiro de verdade. 

A revolução do Pix. 

Quando falamos em dinheiro virtual, sempre faz levantar as orelhas da turma que investe em criptomoedas. Sobre esse assunto, eu tenho uma opinião muito parecida com a deste podcast Tecnocracia: as cripto ainda não são usadas como moedas. O Pix tem feito mais pela digitalização do pagamento do que as criptomoedas em uma década. Recentemente, o BTG Pactual anunciou que vai integrar as contas dos correntistas com carteiras de criptomoedas. É um começo da integração com os meios de pagamentos e transferências tradicionais. 

Acredito que é neste termo “Integração” onde reside o futuro desse caos de dinheiro espalhado em diversas carteiras digitais. Muitas carteiras não permitem a retirada dos valores depositados. É o caso dos apps de estacionamento. O dinheiro fica lá parado até surgir a necessidade de usar novamente. A possibilidade de integrar esse dinheiro espalhado em diversos aplicativos, ou carteiras digitais, tem uma força muito grande de geração de consumo e de receitas para a carteira que “perde” o dinheiro para outra, com a cobrança de pequenas taxas de transferência. Ou apenas com o aproveitamento do período de depósito. 

O Banco Central ainda tem diversas novas funcionalidades para o Pix que prometem ampliar ainda mais o poder das carteiras digitais. Por isso, o Pix, que já é uma revolução, será o grande catalisador do crescimento das fintechs de todos os tipos. Entendo que isso fará com que toda grande empresa tenha no seu roadmap de transformação tecnológica a criação de uma carteira digital para se conectar ao sistema financeiro de forma mais direta, com menos fricção e com mais controle dos seus usuários.