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O novo contrato de trabalho remoto.

Depois de tanto tempo, as pessoas perderam o referencial de como é o trabalho presencial na firma. Desenvolvemos novas rotinas e uma nova zona de conforto se estabeleceu no desconforto do escritório improvisado em casa. 

O avanço da vacinação contra a Covid-19 e a redução dos números de mortes e internações têm trazido à pauta a discussão sobre retorno aos escritórios. Mais de um ano e meio depois daquele dia 17 de março de 2020, quando tivemos que deixar nossas mesas para trás, passamos a debater sobre o tema com cenários mais palpáveis e menos distantes. A sensação é de que finalmente a pandemia se encaminha para o final. Ou ao menos uma estabilidade minimamente viável para retomada da vida normal. 

Parêntese importante: Não podemos deixar de ressaltar que a maior parte dos brasileiros não teve a escolha de trabalhar em casa. Estamos falando, portanto, de uma pequena parte da força de trabalho, mas que representa cargos de grande valor e em grandes empresas que movimentam boa parte da economia. 

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O híbrido é remoto. 

Muito se falou sobre um modelo híbrido de trabalho, baseado na premissa de que as pessoas poderiam ir para os escritórios eventualmente. Porém esse modelo híbrido significa que o trabalho continuará tecnicamente no modelo remoto, uma vez que muitos não estarão presentes no escritório. Ou seja, o desafio da gestão segue igual. Provavelmente mais complexo.

Um exemplo prático e bastante corriqueiro são as reuniões mistas: algumas pessoas reunidas em um ambiente físico e outras remotas. Fatores técnicos fazem com que as pessoas reunidas no ambiente físico precisem se isolar para que a reunião seja de fato inclusiva para todos. Os microfones, por exemplo, interferem uns nos outros. E todos, ombro a ombro, dividindo a mesma tela é algo que a OMS não recomenda e que muitos sequer conseguem conceber quando essa cena se repetirá um dia. Empresas terão que adaptar seus ambientes para tornar a comunicação mista, remota e presencial viável para os times. 

Benefícios, como vale transporte e outros, atrelados à presença física no escritório, também passam a se tornar um desafio à medida que a presença no ambiente de trabalho é eventual.

Neste final de pandemia (assim esperamos!), empreendedores e gestores precisam agora repensar quase do zero essa relação de trabalho e liderança dos times. 

O ambiente físico é um referencial importante para realizar diversas atividades, como produção de conteúdo, recepção de objetos, além de visitas de clientes e parceiros. Quem puder investir certamente terá um ativo para aproveitar de alguma forma criativa. Eu acredito muito no potencial do ambiente físico, desde que sob uma nova perspectiva. 

Não é só sobre trabalho. 

O que mudou neste um ano e meio fora do escritório não foram só as relações de trabalho. Mas os hábitos das pessoas em relação ao trabalho em casa. Fomos lentamente adequando nossas vidas. Aprendemos mais do que  trabalhar em casa. Aprendemos a estudar, meditar, fazer exercícios, terapia, happy hour, comemorar, tudo online. 

Quando as pessoas adquirem um hábito, dificilmente retrorcedem para os velhos hábitos da mesma forma. Mais do que uma visão filosófica sobre mudança pessoal, os hábitos coletivos são ainda mais impactantes para o ser humano. O best seller O Poder do Hábito, do autor Charles Duhigg, afirma que “sociedades adquirem novos hábitos a partir do momento em que rotinas compartilhadas criam um senso de identidade e um sentimento de propriedade.”. Deixar as pessoas entrarem nas nossas casas, através das webcams, nos deu um novo senso de identidade como profissionais. Mas mais do que isso: nos apropriamos da firma criando cenários cheios de vida e sons do nosso dia a dia. Escrevi um pouco sobre isso no meu agradecimento ao time pela conquista do certificado Great Place To Work. 

Depois de tanto tempo, as pessoas perderam o referencial de como é o trabalho presencial de segunda a sexta, das 9h às 19h. Desenvolvemos novas rotinas e uma nova zona de conforto se estabeleceu no desconforto do escritório improvisado em casa. 

Temos, então, um novo padrão. O das pessoas que não querem mais voltar ao escritório como antes. Para a maioria, não faz mais sentido pegar um engarrafamento para se deslocar para uma reunião que pode acontecer virtualmente. Ainda mais nos dias frios onde podemos fazer a reunião enrolados no nosso edredom favorito. Ou sem precisar dividir o banheiro com os colegas após o almoço. Um artigo recente do portal Fast Comapny conta sobre as razões das pessoas que não querem voltar aos escritórios. E podemos listar aqui infinitas razões pessoais, uma vez que os novos hábitos que criamos são atrelados à realidade de cada um. 

Por outro lado, algumas vantagens para as empresas transformaram para sempre a relação com o mercado de trabalho. Gestores puderam captar talentos de forma mais ampla. Não se limitaram mais aos profissionais alocados geograficamente próximos ao escritório. Isso permitiu uma oferta maior e, ao mesmo tempo, mais inclusiva. Grandes talentos potenciais, que viviam distantes dos centros empresariais, tiveram uma oportunidade mais igualitária de demonstrar a sua capacidade. 

Para muitos segmentos, o trabalho remoto está se tornando uma competência essencial das empresas altamente eficientes. O que se perde na relação do ambiente físico se ganha muitas vezes mais na oferta de novos talentos e na agilidade do modelo remoto e assíncrono de trabalho. Isso significa que para alguns segmentos de mercado o trabalho remoto será uma obrigação competitiva.

O futuro do trabalho é uma folha em branco.

Todas as mudanças que estamos vivendo (e as que virão) alteram completamente a ordem dos fatores que costumavam definir as relações de trabalho antes da pandemia. Quem não estiver aberto a novos formatos e novas ideias vai perder atratividade para os talentos do mercado no cenário de retomada de contratações. 

Esse novo momento traz questões que demandam capacitação e adaptação da alta gestão nas empresas, como: Como liderar remotamente e gerar resultados? Como disseminar a cultura através de ambientes virtuais e físicos ao mesmo tempo? Quais habilidades precisamos desenvolver para gestão e liderança? 

Questões técnicas e administrativas: Como proporcionar segurança de dados numa realidade de crimes virtuais em ascensão e cyberwarfare cada vez mais frequente? Como distribuir benefícios aos colaboradores? Como proporcionar ergonomia e equipamentos?

Finalmente, questões para debate na esfera legislativa: Como adaptar leis trabalhistas com pessoas que preferem trabalhar em horários fragmentados e de forma assíncrona? Como determinar limites para o horário de trabalho? Como considerar folgas e férias num mundo cada vez mais nômade? 

Espero que você não tenha lido este texto em busca de grandes respostas. A verdade é que precisamos preencher esta folha em branco do futuro do trabalho pós-pandemia. O que posso oferecer no momento é o meu contato para debater todas estas questões e muitas outras que imagino que você possa ter neste momento. Vamos juntos?