Escrevi recentemente sobre a síndrome do impostor, suas origens e consequências. A falta de confiança é um fator prejudicial para o indivíduo e também para as empresas, que dependem do talento de todos os seus profissionais para atingirem seus objetivos. Como nem tudo no comportamento humano é preto e branco, o excesso de confiança também pode ser nocivo para os negócios. Acreditar que somos capazes de fazer algo sem ter conhecimento suficiente pode nos levar a grandes derrotas na vida.
Muitos empreendedores se orgulham de terem quebrado negócios no passado, como uma justificativa para ter adquirido experiência suficiente para, agora, ter sucesso. Por um lado é verdade: quebrar a cara te ajuda a ter mais cuidado para não tropeçar na mesma pedra. Mas por outro lado também é sinal de que poderiam não ter conhecimento suficiente para o sucesso nos empreendimentos passados. Eu mesmo tive essa experiência com um negócio de varejo que me custou 2 anos e muito dinheiro. Acreditei que tinha conhecimento sobre a dinâmica de um mercado extremamente especializado como é o varejo. Quebrei a cara pelo excesso de confiança em algo que demanda muito conhecimento e experiência.
O @coachdefracassos tem umas verdades para você que está cheio de confiança, mas vazio de conhecimento.
Efeito Dunning-Kruger.
Esse fenômeno do excesso de confiança, no qual algumas pessoas acreditam ter um conhecimento superior ou igual aos realmente preparados, é bastante comum. O mecanismo dessa ilusão de superioridade foi demonstrado numa série de experiências realizadas por Justin Kruger e David Dunning, com alunos da Universidade americana de Cornell. O fenômeno ficou conhecido como Efeito Dunning-Kruger.
Em resumo, o estudo mostra que pessoas com pouco ou nenhum conhecimento sobre um assunto podem ter um nível de confiança muito maior do que pessoas realmente capacitadas. E o mais curioso é que, depois que as pessoas descobrem que elas são incapazes e passam a estudar mais num determinado assunto, o nível de confiança delas nunca volta ao patamar de quando eram completamente ignorantes no tema. Ou seja, quanto mais você investiga aquilo que você não sabe, mais você descobre o que não sabe. Sim, isso é Sócrates puro: só sei que nada sei. Para muitos, essa é a verdadeira sabedoria.
À medida que você se dá conta de que não é tão fácil realizar uma tarefa ou conquistar algo, a confiança cai. Então, você começa a juntar as peças e algum conhecimento. A confiança volta, mas nunca ao patamar da completa ignorância. Alguns chamam de Mount Stupid ou de Child Vision. Ou como dizia o meu avô, você se mete de pato a ganso.
Vivemos em um mundo onde qualquer informação é facilmente acessível a todos. É possível ter um conhecimento superficial sobre qualquer coisa muito rapidamente. Soma-se a isso uma farta literatura de auto-ajuda e cada vez mais coaches cheios de confiança para vender e pronto: temos o cenário perfeito para transformar autoconfiança em um produto cada vez mais acessível e artificial. O potencial disso dar muito errado é real e precisamos estar bem atentos. (Vou abrir esse parênteses para dizer que existem grandes coaches por aí, mas cada vez mais são minoria no meio de tantos aventureiros inebriados de confiança.)
Confiança é importante para correr riscos e inovar.
O cenário de transformação que vivemos atualmente coloca, frente a frente, iniciativas inovadoras e negócios tradicionais. Todos os dias vemos como os grandes bancos, as montadoras, o varejo tradicional e muitos outros setores vêm sendo desafiados por empresas muito menores e com menos recursos financeiros. As startups que lideram esse movimento dependem do equilíbrio entre a real capacidade e a autoconfiança dos gestores.
Fica bastante evidente a necessidade de que todos precisamos ter mais clareza sobre o que sabemos e o que não sabemos. A resposta começa pelo autoconhecimento, mas vai além disso quando assumimos desafios em grupo. Empresas bem-sucedidas não são obras de uma pessoa. O conhecimento que transforma negócios e mercados é uma construção coletiva, que soma diferentes capacidades e disciplinas. Assim, por trás do que você sabe e daquilo que precisa aprender, orbitam diferentes habilidades interpessoais necessárias para gerar uma confiança mais real. Dentro de um time, basta um indivíduo demonstrar um excesso de confiança sem base de conhecimento real para gerar instabilidade e até uma desconfiança na capacidade do grupo.
Acredito que algumas habilidades se destacam nessa busca para evitar o efeito Dunnign-Kruger em equipes. Transparência é uma habilidade que gera confiança dentro do grupo. Ser uma pessoa transparente é deixar sua visão, expectativas, objetivos e ideias à mostra para todos. Compartilhar aquilo que você desconhece é sinônimo de vulnerabilidade. Essas duas habilidades criam fortes laços entre as pessoas num grupo de trabalho. Empatia e espírito de equipe complementam esse caldo de competências. O potencial e as fraquezas de um colega precisam ser encarados como uma responsabilidade de todos. Somando todas estas virtudes, temos um bom começo para encarar desafios com uma confiança menos ilusória.