Antes mesmo da pandemia forçar uma parte dos trabalhadores a ficarem em home office, empresas e sociedade já discutiam as fronteiras entre a vida profissional e a vida pessoal. Tudo começou lá nos anos 00’s quando passamos a nos questionar se deveríamos responder os e-mails enviados fora do horário de trabalho. Depois, surgiram uma pá de aplicativos de mensagens que passaram a ser usados como instrumento de trabalho da era digital. E assim muitos começaram a se questionar qual era a fronteira entre vida profissional e vida pessoal nesse ambiente híbrido: escritório físico vs ambientes digitais de trabalho. Na última década, nos acostumamos a enxergar nossas redes sociais como uma mistura do nosso crachá com a nossa foto de família.
A pandemia acelerou a tomada de decisão de muitas empresas em tornar o trabalho remoto permanente. Algo que antes era apenas uma tendência, agora virou o tal do novo normal. Então, é normal que, às vezes, você perca a noção da fronteira entre vida profissional e vida pessoal?
Eu acredito que um trabalho que não se mistura com a sua vida pessoal é um ambiente profissional sem vida. Isso não significa trabalhar 24 horas por dia, 7 dias por semana, 365 dias por ano. A empresa precisa conhecer as pessoas e não somente os profissionais. Afinal, como aproveitar o potencial individual de cada um se todo mundo é visto e tratado da mesma forma? Como fica a inclusão e diversidade num ambiente onde as pessoas são incentivadas a serem todas iguais? A visão tecnocrata de que as pessoas são peças de uma engrenagem ficou para trás lá na era analógica.
A adequação a esse novo momento depende de como a cultura da sua empresa entende a jornada de trabalho nos ambientes digitais. Se a cultura da sua empresa exige plantões em finais de semana, tem gestores que esperam respostas de mensagens fora do horário, e você está de acordo com isso, então essa é a regra. A adequação às questões trabalhistas corre em paralelo a isso. Quando bem combinado, as pessoas se sentem mais confiantes e ajustam suas vidas para adequarem a essa cultura. Porém, se a empresa diz uma coisa e faz outra, então temos um problema.
Quando as regras são bem combinadas e respeitadas, todo mundo trabalha e vive melhor. Todos nós precisamos ter equilíbrio nos diversos papéis que temos nas nossas vidas. Além de profissionais, somos pais, mães, avós, maridos, esposas, namorados, amigos, irmãos, filhos, entre outros papéis. Temos nossos hobbies e momentos de expressão individual. Temos nossos momentos de puro ócio, hedonismo e reflexão. Temos nossos momentos de conexão espiritual. Enfim, a nossa vida não é o nosso trabalho. Mas isso não significa que nosso ambiente profissional não deva ter vida.
A mistura desses papéis nos ambientes digitais (principalmente redes sociais) faz com que os nossos colegas vivam conosco estes outros momentos das suas e das nossas vidas. E não tem nada de errado com isso. O que não faz sentido é tapar o olho e fazer de conta que essa mistura não acontece no dia a dia.
É impossível negar que os problemas pessoais afetam o desempenho profissional. Por isso, se importe, escute e demonstre empatia com os colegas. Ser profissional não significa abrir mão do seu lado humano. Não é preciso ajudar ativamente todo mundo o tempo todo. Só demonstrar interesse já é um grande sinal de companheirismo. Esse sentimento é essencial para unir times de alta performance. Uma cultura corporativa que incentiva que todos demonstrem suas vulnerabilidades faz com que o nível de confiança entre as pessoas aumente, pois todos se enxergam mais humanos. Quanto mais transparência na relação, mais vida dentro e fora do escritório.