O ambiente da economia digital tornou a competição entre as empresas algo difuso e complexo de enquadrar como nos velhos tempos. Temos muitos exemplos de empresas que foram ultrapassadas por concorrentes que sequer estavam no radar. Em quase todas as categorias de mercado, produtos e serviços digitais estão quebrando a lógica da velha concorrência do mundo analógico.
Quando vamos ao dicionário buscar o sentido do verbo “competir” vemos que o termo é descrito como “concorrer” e “emular”. Competir pressupõe ter um adversário. Um rival. Você pode concorrer e/ou emular esse rival. Ou seja, existe um sentido de imitação na competição.
Quando o assunto é competir, o esporte é sempre um referencial útil por ser compreensível pela maioria. Neste domingo, Lewis Hamilton se tornou o piloto com o maior número de vitórias na F1. Imagino que ele não se tornou o maior vencedor de corridas da F1 emulando somente os seus atuais adversários. Ele levou várias temporadas para chegar a esta conquista. Assim como o Pelé, que acabou de completar 80 anos, se tornou o rei do futebol ao longo de muitos anos de carreira, vencendo diferentes adversários. O ponto que trago para reflexão é este: O que os profissionais que se destacam da maioria têm em comum? Eles se comparam com alguém quando buscam melhorar seu desempenho?
No mundo corporativo ou no empreendedorismo, a competição e concorrência também são palavras do dia a dia na maioria das empresas. Estamos em busca de superar o market share do concorrente, por exemplo. Ou oferecer ao consumidor um produto melhor, com mais funcionalidades ou melhor usabilidade. Esse “melhor” é em relação ao que mesmo? Ao produto concorrente?
Definir um concorrente facilita muitas coisas quando precisamos orientar os colegas, explicar nosso produto ou serviço e também para nortear nossas ações. Acredito que isso é justamente o problema que precisamos evitar. Definir concorrentes é uma espécie de zona de conforto onde nós descansamos nossa angústia diante de um mundo cada vez mais digitalizado e, consequentemente, cada vez mais caótico.
Quando você se compara, ou compete diretamente com outro, você está se limitando. Muitas das análises e leituras dos dados de performance do seu negócio ficam ancoradas no referencial do concorrente. Talvez você tenha capacidade e talento para ser mil vezes melhor. Mas no dia a dia suas ações acabam tendo uma perspectiva baseada nas ações e resultados do outro.
É claro que não é toda temporada que um piloto se torna maior vencedor de corridas da Fórmula 1. É um evento raro. No futebol, até hoje existem controvérsias sobre o número de gols de Pelé, mas ninguém discute quem é o rei do futebol (exceto os argentinos por puro corporativismo). Uma conquista desse quilate é para poucos e, muitas vezes, depende de fatores externos que podem não se repetir para todos. Em resumo: pode ser muito frustrante para a maioria que busca alcançar o topo de qualquer ranking como único objetivo de vida. É preciso ter as expectativas bem equalizadas ao buscar uma superação histórica.
Então temos um dilema: almejar superar personagens históricos em qualquer coisa que seja tem enormes probabilidades de ser frustrante. Ao mesmo tempo, se comparar com concorrente da lojinha ao lado pode ser muito limitante. Repare que ambas situações têm algo em comum, que é a comparação com o outro.
Como realizar algo de destaque, que faça você ser reconhecido, que traga prosperidade, mas ao mesmo tempo signifique uma grande realização pessoal?
Eu acredito que a resposta é esta: parar de competir. É deixar de emular o outro para começar a investir nas características individuais que fazem você e o seu trabalho ser único. Isso valoriza o processo, com seus aprendizados e crescimento, em detrimento do resultado meramente comparativo. O foco no outro, então, se volta para dentro de cada um em busca dos resultados que você determina como sendo a sua conquista. Só sua.
Incentivar e potencializar o talento individual resulta no que alguns definem como singularidade. A capacidade de ser excepcional em algo que só você, do seu jeito, é capaz de ser. Quando levamos isso para o cenário corporativo, a singularidade da visão do negócio e da execução é compartilhada com todos. O resultado esperado é o desenvolvimento de produtos, serviços e de uma visão de negócio incomparável. Recomendo o livro do Peter Thiel, De Zero a Um, que mostra esse conceito aplicado na prática. A singularidade faz a competição perder seu sentido e, para usar o jargão do marketing, cria uma “nova categoria”. Isso soa familiar com alguns negócios disruptivos que vemos todos os dias em postagens do Linkedin?
Buscar o seu potencial individual e encaixar isso dentro de uma corporação é um trabalho de autoconhecimento profundo e constante. Da mesma forma, cada ambiente corporativo precisa fazer esse exercício a partir da visão de negócio dos decisores. A individualidade do negócio é reflexo dos gestores. É deles a responsabilidade de potencializar e conectar as individualidades das pessoas. Acredito que este é um passo fundamental para ter pessoas incomparáveis que vão dar forma a um negócio singular.
Dedico este texto a todas as pessoas que entregam seu talento individual e único para construir a Alright Adtech Company.