O termo “economia das plataformas” é muito utilizado para definir a revolução digital que está transformando negócios baseados no princípio de conectar oferta e demanda através de plataformas digitais. Uber, Airbnb e iFood, entre outros, são exemplos clássicos. Vivemos hoje um cenário de surgimento de novas startups que já nascem no modelo de plataforma como premissa do negócio. E assim vemos diversos rankings e listas de apostas para descobrir qual será o próximo unicórnio. Ao mesmo tempo, negócios tradicionais vão se adaptando ou simplesmente desaparecendo. Para se ter uma ideia do impacto dessa transformação, atualmente negócios digitais correspondem a um terço do PIB da China. Aquele país exportador de mão de obra barata e produtos de qualidade questionável se tornou uma superpotência da inteligência artificial, com produtos de hardware equivalentes ou até melhores que os concorrentes ocidentais. Em todo mundo, a plataforma se tornou o modelo de negócio mais bem-sucedido dos últimos tempos.
É importante ressaltar que o modelo de negócio de plataforma é diferente do negócio de escala. Escalabilidade é resultado de inovação que reduz custos fixos dos produtos e serviços à medida que estes alcançam um mercado cada vez maior. Plataformas não focam exclusivamente na escalabilidade, mas na conexão das redes. A inovação das plataformas está em encontrar ligações entre partes que ainda não foram devidamente conectadas ou aprimoraram uma conexão já existente. Um exemplo disso são os classificados que retiraram uma boa receita (e audiência) dos jornais e migraram para plataformas digitais, como eBay e OLX. O mundo está cheio de exemplos de grandes inovações baseadas na conexão de redes, unindo hotéis e companhias aéreas aos viajantes, aproximando motoristas e passageiros, entre outros cases. O Facebook superou o Myspace como rede social favorita do mundo todo, mesmo sendo esse um produto digital melhor acabado para quem gostaria de ter um perfil apresentando conteúdo on-line onde era possível ter vídeos, músicas, fotos e textos. O sucesso do Facebook, que começou muito mais simples, deve-se ao fato de conectar as pessoas em torno daquilo que realmente é importante: status. E não apenas o conteúdo de cada usuário como acreditava o Myspace.
Se fosse simples encontrar conexões de rede e transformar isso em uma plataforma de sucesso, certamente eu não estaria escrevendo esse texto (estaria desfrutando dos meus milhões conquistados). O desafio é encontrar conexões que geram valor para ambas as partes. E fazer esse encontro em um ambiente com menor fricção possível para as duas pontas. A partir do momento que encontramos essa conexão e construímos esse ambiente, é preciso aumentar o número de participantes para que o valor dessa rede aumente de forma crescente para cada pessoa. Quanto mais usuários vendendo produtos nas plataformas de classificados, mais interessante é fazer parte dessa comunidade, pois as opções de produtos são maiores. Porém, é necessário que haja um equilíbrio entre as conexões. Um exemplo bem evidente são os marketplaces como Alibaba, Amazon e B2W no Brasil. Estes gigantes do varejo passaram a intermediar a conexão entre lojistas e consumidores dentro de seus sites e aplicativos. Se o número de lojistas virtuais é muito maior do que o número de compradores, teremos vendedores insatisfeitos pela falta de demanda. O contrário também é verdadeiro: se temos muitos compradores e poucos vendedores, teremos consumidores insatisfeitos pela falta de oferta. As pessoas se conectam através de interesses simples, mas nem sempre tão evidentes.
O equilíbrio entre os pontos que formam as conexões em rede é fundamental para o sucesso de um modelo de negócio de plataforma. Recentemente uma empresa de transporte compartilhado anunciou um serviço 40% mais econômico que o atualmente mais barato no Brasil. Os comentários que seguiam o anúncio em uma rede social eram extremamente negativos, pois o preço reduzido também significa um valor menor passado ao motorista. Afinal, quem dirige também é cliente da marca. Sem eles, não existe efeito de rede necessário para conectar motoristas e passageiros. Essa é uma outra característica comum às plataformas: a gestão de um negócio que é regido por dois mercados. Motoristas e passageiros são ambos clientes da empresa e precisam ser tratados como tal. Da mesma forma as lojas dentro dos marketplaces. Elas recebem uma série de serviços e benefícios para seguirem vendendo naquele e não num concorrente. Os lojistas recebem treinamento, serviços de logística para entregas, meio de pagamento, crédito para capital de giro e publicidade para atrair mais consumidores. Comprador e loja virtual são, ambos, clientes de empresas como B2W e Alibaba, que demandam atenção específica dentro da administração do negócio. Outro exemplo bem-sucedido é a Udemy, um marketplace que conecta educadores e alunos.
Bastante óbvio? Na verdade, as conexões são simples. O complexo é a execução. Uma pequena diferença na usabilidade pode ser crucial para o futuro de uma plataforma. Ou seja, depois de ter uma ideia genial e descobrir como criar um efeito de rede para montar a plataforma, o empreendedor tem um segundo desafio, talvez até mais difícil, que é organizar a gestão de um modelo disruptivo. Ter a visão de um grande negócio talvez seja a parte mais fácil de criar empreendimentos exponenciais. Alcançar US$ 1 bilhão passa por um modelo de gestão que promova as conexões vencedoras. Mais do que uma ideia, execução e equilíbrio do ecossistema de rede estão se revelando chaves para a criação de unicórnios.
Artigo originalmente publicado no Grupo Amanhã