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Por que as empresas de tecnologia estão tomando o lugar das empresas de comunicação?

Para os mais apressados, a resposta é: porque as empresas de tecnologia estão sendo mais eficientes na tarefa de agregar audiência, empacotar como produto e vender aos anunciantes. Só que os mais apressados também tendem a dizer que isso acontece porque estamos todos online e as empresas de comunicação tradicionais insistem no off-line. Essa conclusão apressada tem dois erros: (1) as empresas de comunicação tradicionais estão investindo tudo o que podem e o que não podem para colocar seu conteúdo online. (2) as maiores empresas de tecnologia, como Google e Facebook, agregam audiência se beneficiando da busca e compartilhamento do conteúdo produzido por grupos como CBS, NBC, CNN, FOX, Rede Globo, Grupo Abril, Folha de SP e outros. É um dilema interessante, pois, num primeiro momento, parece que eles “roubam” a audiência. Mas, olhando para os acessos dos sites desses mesmos grupos tradicionais, vemos que Google e Facebook são seus maiores geradores de tráfego. Temos aí um dos grandes questionamentos dos tempos atuais: o que é uma empresa de comunicação?

Não existe audiência sem conteúdo.

A evolução tecnológica, que está conectando praticamente todos os consumidores do mundo numa rede única de informação, criou uma zona cinza no futuro do negócio da comunicação. Atualmente, as duas empresas com maior capacidade de entrega de publicidade são um buscador e uma rede social: Google e Facebook. Ambos praticamente não produzem conteúdo, apenas organizam e sugerem o que é produzido por terceiros. Em 2012, o Google se consolidou como a maior empresa de mídia do mundo, faturando mais de 50 bilhões de dólares, a maior parte com a venda de publicidade. Isso representa mais que o dobro do segundo lugar. O Facebook, que é uma empresa mais jovem, já atingiu os 7 bilhões de dólares em receita bruta. Ao mesmo tempo, empresas de comunicação tradicionais são vendidas para empresas de tecnologia, e vice-versa. A News Corp. comprou (e já vendeu) o MySpace, a Amazon comprou o Washington Post, a AOL comprou o Huffington Post. Logo, existe uma relação direta entre audiência e conteúdo. Um não existe sem o outro.

Uma virada no modelo de negócio.

Recentemente a Kodak pediu falência ao mesmo tempo em que o Instagram foi comprado por 1 bilhão de dólares. Ambas empresas atuam no mesmo negócio: fotografia. A diferença entre Kodak e Instagram é a compreensão da evolução do comportamento dos consumidores em relação à fotografia.

Na comunicação, o caso é muito semelhante. A zona cinza criada pela tecnologia deixou em aberto o futuro das empresas de mídia, pois surgiram novos canais de distribuição que elas não controlam. Isso lembra muito o impacto nas gravadoras quando surgiu o Napster. Na sequência, o terror o pânico tomaram conta quando a Apple lançou o iPod e o iTunes. Alguns grupos tradicionais de comunicação estão encolhendo porque cometem o mesmo erro da indústria da música nos anos 00’s: focaram seus esforços e investimento muito mais na produção e licenciamento do conteúdo do que na sua distribuição. A evolução tecnológica facilitou a produção e, logo, isso virou uma commodity cada vez mais barata (quando não é gratuita). Google, Facebook, Apple e Amazon criaram plataformas de distribuição de conteúdo extremamente populares. Dessa forma, elas conseguem agregar mais audiência. E como você já sabe, audiência é dinheiro.

Isso significa que existem dois negócios distintos: conteúdo e distribuição. O primeiro já é bastante dominado pela maioria das empresas. Já o segundo é um desafio que demanda muito conhecimento em tecnologia e capacidade de inovação. Quem souber fazer essa distinção de forma clara, vai ter maiores chances de crescer e sobreviver. Por isso, as empresas de comunicação precisam somar especialistas em tecnologia no topo do organograma e olhar para o mercado de start-ups como uma extensão do negócio. É desse mercado que virá o próximo Instagram.

O último foco de resistência.

As publicações impressas estão desaparecendo. O rádio está cada vez mais digital. O Netflix está avançando sobre a TV por assinatura. Mas calma. isso vai ficar ainda pior para quem não se adaptar. Recentemente, a LG anunciou que todas as TVs que saírem da linha de produção terão um sistema de rastreamento que irá coletar dados do usuário via internet. Numa linguagem mais simples: todas as TVs estarão sendo monitoradas e as informações serão coletadas e oferecidas aos anunciantes. Ou seja, a LG vai saber até em qual volume você assiste TV para usar isso como argumento para vender anúncios de, por exemplo, aparelhos auditivos ou fones de ouvido. Obviamente, todos estão de olho na TV, que ainda é o maior mercado de publicidade do mundo.

Existem estudos que preveem que em 10 anos a mídia externa das grandes cidades será totalmente substituída por realidade virtual. Ainda bem que temos tempo até lá.

Artigo publicado originalmente no portal sul21.com.br